Mito ou fato ? O primeiro transplante de coração e sua questão mais controversa.

Todo grande feito é sempre rodeado de histórias e mais histórias. O primeiro transplante de coração, que sem dúvida alguma foi um dos grandes marcos da medicina moderna, não poderia ser diferente !!

Conta-se que Hamilton Naki, africano, e inicialmente jardineiro, foi quem retirou com sucesso o coração do doador em 1967. Por ser negro, não poderia participar de uma cirurgia em pacientes brancos e menos ainda com uma equipe de médicos brancos. Porém o Dr. Christian Barnard, ao longo do tempo, percebeu um grande potencial em Naki, incorporando-o à sua equipe. Pelo menos é o que uma das histórias conta.

Por outro lado, há quem diga que Naki estava em casa e ouviu a notícia do primeiro transplante de coração pelo rádio !!!

Intrigante isso não ? Então neste post, vamos conhecer a história contada onde Hamilton Naki teria sim participado do primeiro transplante de coração em 1967.

Abaixo o texto escrito por Vital Silva, no Portal Obvious, para podermos conhecer uma das versões desta história tão interessante:

“Hamilton Naki nasceu em 1926 em uma pequena aldeia em Eastern Cape, uma província da África do Sul. Mesmo em meio as dificuldades financeiras de sua família, frequentou regularmente o ensino primário. Nascido negro, em um país que implantara até então o mais violento regime de segregação racial que a humanidade já viu, presenciou na própria pele o Estado sucumbir os mais básicos direitos de seus cidadãos. Mal sabia ele que faria parte do círculo profissional de um dos maiores cirurgiões daquele país, o médico Christian Barnard, que realizou o primeiro transplante de coração em humanos do mundo.

cpt.jpgVista aérea da Cidade do Cabo, onde Naki e Barnard viveram por muitos anos.

Aos 14 anos Naki seguia com uma carona rumo a Cidade do Cabo, na região ocidental do país africano, em busca de emprego. Conseguiu se empregar como jardineiro na Universidade de Cape Town. Começou cuidando dos jardins, depois por ser um jovem robusto foi transferido para a Escola de Medicina para cuidar das jaulas e dos animais que eram usados como cobaias, logo mais a ser requisitado para imobilizar os mesmos, e aos poucos foi ganhando confiança dos professores para realizar outros procedimentos como anestesia, sutura e até mesmo auxiliando de forma mais incisiva nas cirurgias. Foram anos de observação. Sua delicadeza, formidável habilidade em aprender e realizar procedimentos chamou a atenção de Christian Barnard que passou a lhe delegar mais confiança e espaço dentro do centro cirúrgico.

universityofcapetown.jpgUniversidade de Cape Town

Barnard também foi um homem incrível, repudiava o racismo, mas por questões de segurança preferia não se manifestar publicamente contra. Na época que Barnard estava ensaiando transplantes de coração em animais o Apartheid já possuía um sólido aparato de proibições bem estabelecidas, dentre elas a de que coloureds não poderiam “tocar em sangue de brancos”. Mas a sua habilidade fez a equipe médica, em especial Barnard, a tacitamente aceitar a figura de Hamilton como membro da equipe.

Em 1967 uma bancária sul-africana foi atropelada por um carro em um das ruas da Cidade do Cabo. A jovem Denise Darvall, que saia de casa para comprar bolo para o café da tarde, foi socorrida ao Hospital Groote Schuur, mas não resistiu aos ferimentos. Teve morte cerebral. Logo após da autorização de seu pai para a doação de órgãos seu coração foi destinado a Louis Washkansky, um senhor que sofria a certo tempo de irreversíveis problemas cardíacos.

surgery.jpg      Sala de cirurgia

Naki foi delegado por Barnard, coordenador da equipe de cirurgiões, para realizar o delicado procedimento de retirada do coração da jovem Darvall. Suas mãos habilidosas não decepcionaram, mesmo depois de exaustivas horas de cirurgia. O procedimento continuou a cargo do restante da equipe para agora implantar o coração em Louis Washkansky. O procedimento foi um sucesso e Barnard ganhou fama mundial estampando jornais do mundo inteiro.

Magazines.jpg   As revistas Time e Life noticiaram ambas em dezembro de 1967 o sucesso do primeiro transplante de coração em humanos do mundo

Por muitos anos a história de Hamilton Naki manteve-se por trás dos bastidores. Certa vez uma foto de Naki junto com a equipe de cirurgiões chegou a ser publicada, e em nota o Hospital declarou que o negro da foto era um funcionário da limpeza.

Em depoimento para a BBC de Londres logo após o fim do Apartheid, Barnard declarou que “podia ver que ele era um jovem muito capaz e lhe dei mais e mais o que fazer e, eventualmente, ele poderia fazer um transplante de coração às vezes melhor do que os médicos em formação que vieram da Universidade de Cape Town.” Mesmo com tenras declarações do famoso cirurgião em reconhecimento a importância de Naki para o transplante, seu nome permaneceu de forma tímida na história da África do Sul.

HofCPT.jpg                                                                             Heart of Cape Town Museum

No ano de 2007 foi inaugurado o Heart of Cape Town Museum, estabelecido na parte antiga Hospital Groote Schuur e utilizando as salas e utensílios originais do transplante. Tudo é organizado de forma a recriar a atmosfera daquele dezembro de 1967, para isso muitos bonecos de cera representando os envolvidos no transplante foram espalhados em posições estratégicas, menos o de Hamilton, na qual muitas versões da história negam que ele estivesse presente.

Em entrevista em 2003 para o The Guardian, Naki expressou que foi chamado de “um dos meninos de bastidores”. A participação de Naki neste fato histórico carrega muita controvérsia ainda hoje na África do Sul, enquanto uns acreditam que a história não passa de embelezamento dos negros pós-apartheid, outros preferem acreditar que entrevistas do próprio Barnard veiculadas em jornais como The Economist, BBC, The New York Times são suficientes para provar que Naki realmente teve participação no transplante.

Mesmo que o Apartheid tenha terminado formalmente com a eleição de Mandela em 1994, o ódio racial permanece no país em uma constante luta entre negros e brancos, e essa disputa afeta inclusive a forma de contar a história do país africano. Naki morreu em 2005 em um subúrbio da Cidade do Cabo, viveu os últimos anos de sua vida com uma pequena aposentaria de jardineiro e rodeado de filhos e netos.”

Esta versão da história é sem dúvida muito interessante !! Mas ainda permanecem dúvidas se é verdadeira ou não. Mesmo não tendo essa certeza, além de conhecer os fatos da medicina, também é interessante sabermos as histórias que caminham ao lado desses fatos não acham ?

E você, o que acha ? Mito ou verdade ? Já leu alguma coisa a respeito ? Vamos continuar pesquisando sobre o assunto e quando descobrirmos a verdade, se é que existe quem possa confirmar, contaremos para vocês !!!

 Instrumentadoras de Plantão

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *