Infecções de Sítio Cirúrgico – Recomendações da OMS 2016

As Infecções de Sítio Cirúrgico são uma preocupação constante e cotidiana dos profissionais da Instrumentação Cirúrgica. Por isso, fomos pesquisar as melhores recomendações da OMS – Organização Mundial da Saúde para a prevenção destas infecções e segurança do paciente. A OMS selecionou em sua publicação 28 recomendações dentro de três momentos: o pré-operatório, o intra-operatório e  o pós-operatório. É fundamental que o Instrumentador Cirúrgico entenda e conheça estas recomendações para que possa aplicar em seu trabalho e proporcionar segurança ao paciente dentro de suas atividades. Trazemos em Português as 28 recomendações e as explicações de como estas recomendações foram pesquisadas e publicadas. O Portal IBSP – Instituto Brasileiro de Segurança do Paciente traduziu a publicação da OMS, que trazemos a seguir:

Diretrizes globais da OMS para prevenção de infecção de sítio cirúrgico

Recentemente, noticiamos no Portal IBSP o lançamento das Diretrizes Globais da OMS para prevenção de infecção de sítio cirúrgico. Confira os itens traduzidos para o português.

As diretrizes trazem 28 recomendações para 26 itens que foram construídas por um painel com 20 dos maiores especialistas mundiais no assunto. Esta é a primeira diretriz mundial sobre infecção de sítio cirúrgico, e como forma de ajudar na divulgação, trazemos uma tradução em português de cada item das diretrizes (veja no final deste post).

Cada recomendação foi descrita como forte (os especialistas do painel têm confiança que os benefícios da intervenção superam os riscos) ou condicional (os especialista consideram que os benefícios da intervenção provavelmente superam os riscos). Além disso, as evidências que embasam cada recomendação foram classificadas em termos de qualidade conforme a metodologia GRADE em altamoderadabaixa ou muito baixa.

Apresentação das Diretrizes da OMS

As infecções associadas à assistência (IAA) em saúde são adquiridas pelos pacientes enquanto recebem cuidados assistenciais e representam o evento adverso mais frequente que afeta a segurança dos pacientes em todo o mundo.

Trabalhos recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a infecção do sítio cirúrgico (ISS) é o tipo de IAA mais pesquisado e freqüente em países de baixa e média renda e afeta até um terço dos pacientes que foram submetidos a um procedimento cirúrgico. Embora a incidência de ISS seja menor nos países de alta renda, continua sendo o segundo tipo mais freqüente de IAA na Europa e nos Estados Unidos da América (EUA).

Muitos fatores na jornada do paciente através do processo cirúrgico foram identificados como contribuindo para o risco de ISS. Portanto, a prevenção dessas infecções é complexa e requer a integração de uma série de medidas preventivas antes, durante e após a cirurgia. No entanto, a implementação destas medidas não é padronizada em todo o mundo. Atualmente, não existem diretrizes internacionais disponíveis e, frequentemente, são identificadas inconsistência na interpretação das evidências e recomendações em diretrizes nacionais.

O objetivo destas diretrizes é fornecer uma ampla gama de recomendações baseadas em evidências para intervenções a serem aplicadas durante os períodos pré, intra e pós-operatório para prevenção de ISS, considerando também aspectos relacionados à disponibilidade de recursos e valores e preferências. Embora as diretrizes sejam destinadas a pacientes cirúrgicos de todas as idades, algumas recomendações não se aplicam à população pediátrica devido à falta de evidência ou inaplicabilidade e isso é claramente indicado.

Recomendações para o Pré-operatório –  Diretrizes Globais da OMS para prevenção de Infecção de Sítio Cirúrgico (ISS).

Esta é a primeira diretriz mundial sobre infecção de sítio cirúrgico. Cada recomendação foi descrita como forte (os especialistas do painel têm confiança que os benefícios da intervenção superam os riscos) ou condicional (os especialista consideram que os benefícios da intervenção provavelmente superam os riscos). Além disso, as evidências que embasam cada recomendação foram classificadas em termos de qualidade conforme a metodologia GRADE em altamoderadabaixa ou muito baixa.

Recomendações no Pré-operatório

Banho pré-operatório

  • Recomendação 1: é uma boa prática clínica o paciente tomar banho antes da cirurgia. O painel sugere que um sabão simples ou antimicrobiano pode ser usado para este fim. (Recomendação condicional / Evidência de qualidade moderada). O painel decidiu não formular uma recomendação sobre a utilização de panos impregnados com gluconato de clorexidina com a finalidade de reduzir ISS devido à evidências limitadas e de qualidade muito baixa.

Descolonização com pomada de mupirocina com ou sem lavagem corporal com gluconato de clorexidina para a prevenção de Staphylococcus aureus em portadores nasais que serão submetidos a cirurgia

  • Recomendação 2: o painel recomenda que os pacientes que serão submetidos a cirurgia cardiotorácica ou ortopédica com colonização nasal sabida por S. aureus devem receber aplicações perioperatórias intranasais de pomada de mupirocina a 2% com ou sem a combinação de lavagem corporal com clorexidina. (Recomendação forte/ Evidência de qualidade moderada);
  • Recomendação 3: o painel sugere considerar tratar também pacientes com colonização nasal sabida por S. aureus que serão submetidos a outros tipos de cirurgia com aplicações perioperatórias intranasais de pomada de mupirocina a 2% com ou sem a combinação de lavagem corporal com clorexidina (Recomendação condicional / Evidência de qualidade moderada).

Triagem para colonização por bactéria portadora de beta-lactamase de espectro estendido (ESBL) e impacto na profilaxia antibiótica cirúrgica

  • O painel decidiu não formular uma recomendação devido à falta de evidências nesse assunto.

Momento ideal para a profilaxia antibiótica cirúrgica pré-operatória

  • Recomendação 4: o painel recomenda a administração de profilaxia antibiótica antes da incisão cirúrgica quando indicado (dependendo do tipo de cirurgia). (Recomendação forte / Evidência de qualidade baixa);
  • Recomendação 5: o painel recomenda a administração de profilaxia antibiótica em até 120 minutos antes da incisão, considerando a meia-vida do antibiótico. (Recomendação forte, qualidade moderada da evidência). Obs: uma análise dos dados comparando diferentes intervalos de tempo (com 120 min, 60 min ou 30 min antes da incisão) não demonstra diferença significativa, sendo importante apenas observar a meia-vida do antibiótico para escolher o melhor momento para administração.

Preparação mecânica do intestino e uso de antibióticos orais

  • Recomendação 6: o painel sugere que antibióticos orais pré-operatórios combinados com a preparação mecânica do intestino devem ser usados para reduzir o risco de ISS em pacientes adultos submetidos a cirurgia colorretal eletiva. (Recomendação condicional/ Evidência de qualidade moderada);
  • Recomendação 7: o painel recomenda que a preparação mecânica do intestino sozinha (sem administração de antibióticos orais) não deve ser utilizada com a finalidade de reduzir ISS em pacientes adultos submetidos a cirurgia colorretal eletiva. (Recomendação Forte/ Evidência de qualidade moderada).

Tricotomia

  • Recomendação 8: o painel recomenda que em pacientes submetidos a qualquer procedimento cirúrgico, cabelos/pelos não devem ser removido ou, se absolutamente necessário, devem ser removido apenas com máquinas de cortar. A depilação é fortemente desencorajada em qualquer momento, seja no pré-operatório ou na sala de cirurgia (Recomendação forte/ Evidência de qualidade moderada).

Preparação do sítio cirúrgico

  • Recomendação 9: o painel recomenda soluções antissépticas alcoólicas baseadas em gluconato de clorexidina para a preparação da pele do sítio cirúrgico em pacientes que serão submetidos a cirurgias (Recomendação forte/ Evidência de qualidade de evidência baixa a moderada).

Selantes antimicrobianos para a pele

  • Recomendação 10: o painel sugere que os selantes antimicrobianos não devem ser usados após a preparação da pele do sítio cirúrgico com a finalidade de reduzir ISS. (Recomendação condicional/ Evidência de qualidade muito baixa).

Preparação das mãos para a cirurgia

  • Recomendação 11: o painel recomenda que a preparação das mãos para a cirurgia seja realizada esfregando-as com sabonete antimicrobiano apropriado e água ou usando uma escova adequada à base de álcool antes de colocar luvas estéreis. (Recomendação forte/ Evidência de qualidade moderada).

Recomendações para o Pré e Intra-operatório –  Diretrizes Globais da OMS para prevenção de Infecção de Sítio Cirúrgico (ISS).

Esta é a primeira diretriz mundial sobre infecção de sítio cirúrgico. Cada recomendação foi descrita como forte (os especialistas do painel têm confiança que os benefícios da intervenção superam os riscos) ou condicional (os especialista consideram que os benefícios da intervenção provavelmente superam os riscos). Além disso, as evidências que embasam cada recomendação foram classificadas em termos de qualidade conforme a metodologia GRADE em altamoderadabaixa ou muito baixa.

Recomendações no Pré e Intra-operatório

Melhoria do suporte nutricional

  • Recomendação 12: o painel sugere considerar a administração de fórmulas nutricionais orais ou entéricas reforçadas com múltiplos nutrientes com a finalidade de prevenir ISS em pacientes com baixo peso que passarão por grandes cirurgias (Recomendação condicional /Evidência de qualidade muito baixa).

Suspensão perioperatória de agentes imunossupressores

  • Recomendação 13: o painel sugere não interromper medicações imunossupressoras antes da cirurgia com a finalidade de prevenir ISS (Recomendação condicional /Evidência de qualidade muito baixa).

Oxigenação peri-operatória

  • Recomendação 14: o painel recomenda que pacientes adultos submetidos a anestesia geral com intubação endotraqueal para procedimentos cirúrgicos recebam uma fração de 80% de oxigênio inspirado (FiO2) no intra-operatório e, se possível, no pós-operatório imediato por 2-6 horas para reduzir o risco de ISS (Recomendação forte / Evidência de qualidade moderada).

Manter a temperatura corporal normal (normotermia)

  • Recomendação 15: o painel sugere o uso de dispositivos de aquecimento na sala de cirurgia e durante o procedimento cirúrgico para o aquecimento do corpo do paciente com a finalidade de reduzir ISS. (Recomendação condicional / Evidência de qualidade moderada).

Uso de protocolos para controle intensivo de glicemia no perioperatório

  • Recomendação 16: o painel sugere a utilização de protocolos para o controle perioperatório intensivo da glicemia tanto para pacientes adultos diabéticos quanto não diabéticos submetidos a procedimentos cirúrgicos para reduzir o risco de ISS (Recomendação condicional / Evidência de qualidade baixa).

Manutenção do controle adequado do volume circulante / normovolemia

  • Recomendação 17: o painel sugere a utilização de terapia com fluidos guiada por objetivos (GDFT: goal-directed fluid therapy) no intra-operatório para reduzir o risco de ISS (Recomendação condicional / Evidência de qualidade baixa).

Campos e aventais cirúrgicos 

  • Recomendação 18: o painel sugere que tanto campos estéreis de tecido reutilizáveis quanto campos estéreis descartáveis que não sejam de tecido, assim como aventais cirúrgicos, possam ser utilizados durante cirurgias com o objectivo de prevenir ISS (Recomendação condicional / Evidência de qualidade muito baixa).
  • Recomendação 19: o painel sugere não utilizar campos fenestrados adesivos de plástico com ou sem propriedades antimicrobianas com a finalidade de prevenir ISS (Recomendação condicional / Evidência de qualidade baixa a muito baixa)

Dispositivos de proteção de feridas

  • Recomendação 20: o painel sugere considerar o uso de dispositivos de proteção de feridas em cirurgias abdominais potencialmente contaminadas, contaminadas e infectadas com a finalidade de reduzir a taxa de ISS (Recomendação condicional / Evidência de qualidade muito baixa).

Irrigação da ferida incisional

  • Recomendação 21: o painel considera que há evidência insuficiente para recomendar a favor ou contra a irrigação da ferida incisional com salina antes do fechamento com a finalidade de prevenir ISS. O painel sugere considerar o uso da irrigação da ferida incisional com uma solução aquosa de PVP-I antes do fechamento com a finalidade de prevenir ISS, particularmente em feridas limpas e potencialmente contaminadas. O painel sugere que a irrigação de feridas incisionais com antibióticos antes do fechamento não deve ser feita com a finalidade de prevenir ISS (Recomendações condicionais / Evidência de qualidade baixa).

Terapia profilática com pressão negativa

  • Recomendação 22: o painel sugere o uso de terapia profilática com pressão negativa  em pacientes adultos em incisões cirúrgicas com fechamento primário, desde que sejam feridas de alto risco, com a finalidade de prevenção de ISS, levando em consideração os recursos disponíveis (Recomendação condicional / Evidência de qualidade baixa).

Utilização de luvas cirúrgicas

  • O painel decidiu não formular uma recomendação devido à falta de evidências para avaliar se a dupla luva ou a troca de luvas durante cirurgias, ou ainda o uso de tipos específicos de luvas, é mais eficaz na redução do risco de ISS.

Mudança de instrumental cirúrgico

  • O painel decidiu não formular uma recomendação sobre este tema devido à falta de evidências.

Suturas revestidas com antimicrobianos

  • Recomendação 23: o painel sugere a utilização de suturas revestidas com triclosan com a finalidade de reduzir o risco de ISS, independente do tipo de cirurgia (Recomendação condicional / Evidência de qualidade moderada).

Sistemas de ventilação com fluxo de ar laminar no contexto de ventilação da sala cirúrgica

  • Recomendação 24: o painel sugere que sistemas de ventilação com fluxo de ar laminar não devem ser usados para reduzir o risco de ISS para pacientes submetidos a cirurgia de artroplastia total (Recomendação condicional / Evidência de qualidade baixa a muito baixa).

Recomendações para o Pós-operatório –  Diretrizes Globais da OMS para prevenção de Infecção de Sítio Cirúrgico (ISS).

Esta é a primeira diretriz mundial sobre infecção de sítio cirúrgico. Cada recomendação foi descrita como forte (os especialistas do painel têm confiança que os benefícios da intervenção superam os riscos) ou condicional (os especialista consideram que os benefícios da intervenção provavelmente superam os riscos). Além disso, as evidências que embasam cada recomendação foram classificadas em termos de qualidade conforme a metodologia GRADE em altamoderadabaixa ou muito baixa.

Recomendações no Pós-operatório

Prolongamento da profilaxia antibiótica cirúrgica

  • Recomendação 25: o painel de especialistas recomenda contra o prolongamento da administração de profilaxia antibiótica cirúrgica após a conclusão da cirurgia com o propósito de prevenir Infecção de Sítio Cirúrgico. (Recomendação forte / Evidência de qualidade moderada).

Curativos avançados

  • Recomendação 26: o painel de especialistas sugere não usar qualquer tipo de curativo avançado ao invés de um curativo padrão sobre feridas cirúrgicas com fechamento primário com a finalidade de prevenir ISS. (Recomendação condicional / Evidências de baixa qualidade); Obs: são considerados curativos avançados os hidrocolóides, os hidroativos, os que contém prata ou polihexametileno-biguanida.

Profilaxia antimicrobiana na presença de um dreno e tempo para remoção do dreno da ferida operatória

  • Recomendação 27: o painel sugere que a profilaxia antibiótica perioperatória não deve ser continuada na presença de um dreno na ferida com a finalidade de prevenir ISS.(Recomendação condicional/ Evidências de baixa qualidade);
  • Recomendação 28: o painel sugere a remoção do dreno da ferida quando clinicamente indicado. Nenhuma evidência foi encontrada para recomendar um momento ótimo de remoção do dreno da ferida com a finalidade de prevenir ISS. (Recomendação condicional/ Evidências de muito baixa qualidade).

Via Portal IBSP – Instituto Brasileiro de Segurança do Paciente

Quer conhecer a publicação original na íntegra da OMS ? Então acesse:

GLOBAL GUIDELINES FOR THE PREVENTION OF SURGICAL SITE INFECTION

No arquivo original você vai encontrar toda a argumentação científica para a formulação das recomendações.

Temos que conhecer esse conteúdo cada vez mais. Sempre que estiver em dúvida sobre alguma atitude ou procedimento, consulte as recomendações do Guideline OMS 2016. Isso vai te ajudar muito !!!

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