O Bisturi é um instrumento em forma de faca, pequeno, de lâmina com punho e que serve para fazer incisões em tecidos macios. Deriva da faca, que provém do nome em latím “cultellus” que significa cortar, serve então para cortar e é formado por uma lâmina e cabo ( punho ). É similar ao escalpelo que vem do latim “scalpellum”, que se define também como instrumento em forma de faca pequena de ponta fina, pontiaguda, de um ou dois cortes que se usa em disecções anatômicas, necrópsias e vivisecções. É similar a uma navalha que é a faca cuja lâmina pode dobrar-se sobre o cabo/punho para que a borda fique guardada entre duas fendas dependendo do propósito. A lanceta era um canivete pequeno em épocas antigas da medicina, e se utilizou muito a lanceta para a prática das sangrias. Eram bisturis de lâminas finas e pontiagudas.
O bisturi é denominado dessa forma de acordo com Huet, porque em Pistori era onde existia antigamente a melhor fábrica desta classe de instrumentos. O vocábulo português deriva do francês “bistouri”.
Existiram muitos tipos com diferentes variações na ponta que podia ser reta, curva, em forma de ferro de lança, quadrangular, circular, e o cabo/punho de diversos materiais: madeira, osso, marfim, ferro, bronze e aço.
O bisturi é um dos instrumentos cirúrgicos que primeiro existiram na humanidade, procedendo das primitivas ferramentas e armas da antiguidade. A faca depois do machado é o instrumento mais antigo fabricado pelo homem, consistia em uma simples ponta talhada em pedra.
As primeiras trepanações ou punções cranianas seriam realizadas com os instrumentos da época, objetos cortantes derivados de armas e ferramentas existentes nesse momento e lugar, provavelmente mais finas, menores e mais curtos. Elementos derivados das facas de sílex ( pedras formadas principalmente por silicato ), ossos, agulhas de peixe, chifres; material forte que conseguia perfurar o osso da calota craniana.
Na Meso América se encontram muitas pontas de flechas e facas confeccionados com pedra obsidiana, que é uma rocha do tipo lava vulcânica pertencente ao grupo dos silicatos, muito utilizados. Foram descobertos instrumentos pré-colombianos realizados com esse material.
Folke Henschen, medico e historiador sueco, afirma que os achados arqueológicos soviéticos da margem do rio Dnieper na década de sessenta demonstram a existência de trépanos em crânios datados do período Mesolítico o que deixaria a data em torno do ano 12.000 antes de Cristo. Existem achados arqueológicos de crâneos com sinais evidentes de trepanação ( cirurgia em que se faz uma abertura em um osso, especialmente do crânio ) datados em torno do ano 3000 antes de Cristo e que se supõe a sobrevivência do paciente depois da intervenção. Os mais antigos foram achados na bacia do Danubio, mas existem achados similares em escavações na Dinamarca, Polônia, França, Reino Unido, Suécia e Espanha.
No Museu do Louvre em Paris se encontra o nome do primeiro cirurgião conhecido, Urlugaledin, do povo sumério da Mesopotâmia, é uma marca pessoal em argila que mostra duas facas rodeadas de plantas medicinais.
Também se encontram bisturis de bronze encontrados em Nínive. Na pedra do Código de Hammurabi que foi encontrada em Susa ( Irã ) encontramos referência expressa do bisturi. “…se o medico abre um inchaço com uma faca” – “… se um médico causa uma ferida grave com uma faca …”. A faca é a referência ao bisturi.
No Egito, em um dos batentes da entrada do templo de Menfis se encontra o gravado mais antigo de uma intervenção cirúrgica, de uma circuncisão. Se observam ferramentas cirúrgicas em baixo relevo, entre elas, um bisturi.
O papiro de Edwin Smith é o documento científico cirúrgico mais primitivo encontrado até agora. D. Gracia se refere a práticas antigas, possivelmente de uns 5000 anos antes de escrever o texto. Acredita-se que sofreu várias redações, sendo esta última do ano 1.700 depois de Cristo e foi realizada por um escriba que não era cirurgião. O texto contém uma coleção de quarenta e oito histórias clínicas cirúrgicas.
O uso da faca primitiva, o bisturi de pedra na circuncisão é referido no Segundo livro do Êxodo, no qual Zipporah, viúva de Moisés “corre uma pedra afiada e corta o prepúcio de seu filho”. Deus manda a Josué, o sucessor de Moisés, que faça facas afiadas e efetue a circuncisão dos bebês de Israel nascidos depois do êxodo do Egito. Este é o único procedimento cirúrgico mencionado na Bíblia.
As facas, ferramentas e armas de guerra se desenvolveram e aperfeiçoaram nas épocas da Idade do Bronze e do Ferro. Nas escavações de Tene ( Suíça ) que eram habitações próximas ao lago descobertas em 1853, foram encontrados diferentes objetos de culturas diferentes nas sucessivas camadas de solo, desde a idade da pedra até as idades do bronze e do ferro com grande quantidade de instrumentos encontrados. Estudos realizados por Sudholf descrevem três facas de cobre com alça em forma de gancho ou curvos encontrados em uma tumba próxima de Tebas, datados de uma época próxima a 1500 anos antes de Cristo. O bronze ( liga de cobre e estanho ) não se sabe exatamente quando se inicia mas em torno de 3000 anos antes de Cristo foi um descobrimento que comprovou que era um material mais duro e as bordas duravam mais tempo.
As facas de bronze eram de formas variadas, com secções circulares, quadradas, hexagonais e as vezes trapezoidal. Também foram encontrados instrumentos ambivalentes tendo em um extremo o bisturi e no outro extremo uma forma de espátula. O mais utilizado foi o bisturi reto com corte em ambos os lados e pontiagudo. Existem exemplares no Museu Britânico, no Louvre, em Roma e no Museu Nacional de Nápoles, encontrados em Pompéia. Existiram bisturis especiais como o de flebotomia, o de litotomia, e também um bisturi muito fino para intervenções nos olhos.
O ferro, mesmo que não haja dados precisos da data em que se descobriu a técnica de fundir mineral de ferro, foram descobertos utensílios no Egito que datam de 3000 anos antes de Cristo. O aço existe desde a época antiga mesmo que não se denominava como tal, nem se produzia de uma forma mais industrial até o ano de 1740. Era conhecido pelos artesãos do ferro que ao aquecer o ferro em forja ou forno de carvão vegetal com tiro de ar, e posteriormente batimento com expulsão das impurezas ou resíduos, se produzia uma borda muito dura, essa era de aço. O forno de carvão vegetal e o ar introduzia 2% de carbono para formar aço de uma forma prática sem saber disso naquela época. As primeiras pontas de aço se devem aos romanos que desenvolveram facas especiais para diferentes funções: casa, sapataria, forja, guerra, etc. As primeiras na Espanha eram produzidas a arma chamada “falcata” no século IV antes de Cristo. As navalhas foram fabricadas pelos romanos no primeiro século.
A Revolução Industrial do século XIX. Fenômeno complexo que afetou fundamentalmente as inovações científicas mas que foi um processo de revolução econômica e social. Uma época de grandes mudanças na sociedade e na indústria sidero-metalúrgica, principalmente o aço, que é o material de maior importância na vida moderna, e isto supõe um grande avanço na maquinaria e nas ferramentas, sobretudo os aços especiais que não mais resistentes e é possível fazê-los mais finos, podendo assim conseguir instrumentos de grande precisão. O século dos grandes inventos, também da medicina, da cirurgia e o nascimento das especialidades médicas. É possível constatar pelo número de fabricantes de instrumentos médicos, a grande variedade e forma dos mesmos, também dos bisturis que aparecem em grande diversidade.
No século XX aparece um novo avanço que é o bisturi elétrico, um conceito totalmente novo do bisturi que é um grande avanço para a cirurgia, coexistindo com uma enorme variedade de bisturis clássicos. Se desenham e constroem bisturis para as especialidades médicas, para intervenções específicas com o objetivo de abordar zonas anatômicas difíceis. A tecnologia permite fabricar lâminas de bisturi muito finas e o aumento da demanda diminui o custo de produção, o que permite que sejam descartáveis.
Via: http://tomascabacas.com/ – Tomás Cabacas – Um site sobre história da Medicina
Traduzido do Espanhol em 02/04/2017.