Quem melhor que um astronauta para dar essas dicas ?
Se ficar isolado dentro de casa já é um desafio, imagina então ficar sozinho no espaço! O astronauta Scott Kelly que o diga. Ele passou um ano sozinho em uma estação espacial para fins de pesquisa da Agência Espacial Americana, a NASA e, em artigo recente, publicado no The New York Times, ele falou sobre a experiência: “Não foi fácil. Quando eu ia dormir, estava no trabalho. Quando acordava, continuava no trabalho. Voar no espaço provavelmente é o único emprego do qual você não pode se demitir”, escreveu.
Mas, apesar das dificuldades, o astronauta disse que aprendeu muito sobre isolamento durante este período e compartilhou dicas tão boas para passar por isso, que não poderíamos deixar somente nas páginas do jornal americano. Traduzimos as recomendações de Kelly para você adaptar para o seu home office / quarentena.
Siga um cronograma
“Na estação espacial, eu tinha horários rigorosos, desde o momento de acordar até voltar a dormir. Às vezes, a agenda envolvia saídas ao espaço que podiam durar até oito horas; em outros momentos, era uma tarefa de cinco minutos, como verificar as flores experimentais que eu estava cultivando no espaço. Você descobrirá que manter um plano vai ajudá-lo a se ajustar a um ambiente de trabalho e uma vida caseira diferentes, e o mesmo vale para sua família. Quando voltei para a Terra, senti falta da estrutura que esses horários rigorosos ofereciam, e encontrei dificuldade para viver sem isso”.
Não force o ritmo
“Quando você está vivendo e trabalhando no mesmo lugar por dias a fio, existe a possibilidade de que o trabalho tome todo o espaço, se você assim permitir. No período em que vivi na estação espacial, eu deliberadamente procurei manter um ritmo pausado, porque sabia que passaria muito tempo lá – exatamente a situação em que estamos hoje. Reserve tempo para atividades divertidas e não se esqueça de incluir em sua agenda um horário regular para dormir. Os cientistas da Nasa estudam de perto o sono dos astronautas, quando eles estão no espaço, e descobriram que a quantidade de sono tem relação com a cognição, humor e o relacionamento interpessoal – coisas essenciais para chegar bem ao final de uma missão espacial ou de um período de quarentena em casa”.
Faça exercícios
“Para um astronauta, sair é uma empreitada perigosa, que requer dias de preparativos. Pesquisas demonstram que passar algum tempo na natureza é benéfico para nossa saúde física e mental – e o mesmo se aplica a exercícios. Você não precisa se exercitar por 2,5 horas a cada dia, como fazem os astronautas na estação espacial, mas se movimentar uma vez por dia deveria ser parte da agenda de sua quarentena”.
Você precisa de um hobby
“Quando fica confinado em um espaço pequeno, você precisa de uma distração que não seja o trabalho ou cuidar da manutenção do espaço em que vive. Algumas pessoas se surpreenderam ao descobrir que levei livros comigo para o espaço. O silêncio e a absorção que é possível encontrar em um livro físico –que não tilinte com novas notificações ou tente convencê-lo a abrir uma nova aba – é inestimável. Muitas pequenas livrarias estão oferecendo serviços de entrega domiciliar, ou separam livros para que os compradores os apanhem sem entrar na loja, o que significa que você pode apoiar o comércio local e ao mesmo tempo cultivar o tempo desconectado, que é muito necessário.
Você também pode praticar com um instrumento musical (acabo de comprar um simulador digital de guitarra, online), tentar artesanato ou fazer arte de alguma espécie. Os astronautas reservam tempo para todas essas coisas, no espaço. (Você se lembra do astronauta canadense Chris Hadfield e sua famosa cover de “Space Oddity”, de David Bowie?)”.
Mantenha um diário
“A Nasa vem estudando os efeitos do isolamento sobre os seres humanos há décadas, e uma constatação surpreendente que seus pesquisadores fizeram foi a do valor de manter um diário. Ao longo de minha missão de um ano de duração, reservei tempo para escrever sobre minhas experiências quase todos os dias. Se você se apanhar simplesmente registrando os acontecimentos do dia (que, nas atuais circunstâncias, tenderão a ser repetitivos), tente em lugar disso descrever o que está sentindo com cada um de seus cinco sentidos, ou escreva sobre recordações. Mesmo que você não termine escrevendo um livro baseado em seu diário, como eu fiz, escrever sobre os seus dias o ajudará a colocar suas experiências em perspectiva e permitirá contemplar, mais tarde, o que significou esse período único na história”.
Reserve tempo para se conectar
“Mesmo com todas as responsabilidades de servir como comandante da estação espacial, jamais perdi oportunidades de conversar em vídeo com minha família e amigos. Cientistas constataram que o isolamento é prejudicial não só à nossa saúde mental mas também para a saúde física, especialmente o sistema imunológico. A tecnologia torna mais fácil do que nunca manter contato, e por isso vale a pena reservar tempo para se conectar com as pessoas queridas a cada dia – e isso pode até ajudar no combate aos vírus”.
Ouça os especialistas
“Descobri que a maioria dos problemas da vida não requer ciência avançada, mas quando eles requerem ciência avançada, você deve consultar um cientista. Viver no espaço me ensinou muito sobre a importância de confiar nos conselhos de pessoas que sabiam mais do que eu sobre seus assuntos, quer se tratasse de ciência, engenharia, medicina ou o projeto da estação espacial incrivelmente complexa que me mantinha vivo.
Especialmente em um momento desafiador como o que estamos vivendo agora, temos de buscar conhecimento junto àqueles que mais sabem sobre o assunto, e prestar a tenção ao que nos dizem. A mídia social e outras fontes cujas informações não passam pela devida filtragem podem ser transmissoras de desinformações, da mesma forma que um aperto de mão pode transmitir o vírus, e por isso temos de fazer questão de buscar fatos em fontes respeitadas, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Centro de Recursos sobre o Coronavírus do Hospital Johns Hopkins”.
Estamos todos conectados
“Vista do espaço, a Terra não tem fronteiras. A difusão do coronavírus está nos mostrando que aquilo de que compartilhamos é muito mais poderoso do que aquilo que nos separa, tanto para o bem, quanto para o mal. Todas as pessoas estão inevitavelmente interconectadas, e quanto mais pudermos nos unir para resolver nossos problemas, melhor nos sairemos.
Um dos efeitos colaterais de ver a Terra da perspectiva que o espaço oferece, pelo menos para mim, foi o de sentir mais compaixão pelos outros. Por mais impotentes que possamos nos sentir, confinados em nossas casas, há sempre coisas que podemos fazer – vi pessoas lendo para crianças, por meio de sistemas de videoconferência, pessoas que doaram tempo e dinheiro para organizações assistenciais, online, e pessoas que se encarregam de tarefas cotidianas para seus vizinhos idosos ou que têm sistemas imunológicos comprometidos. Os benefícios para os voluntários são tão grandes quanto para as pessoas às quais eles ajudam.