Você sabe o que é Time-Out ? Entenda esta etapa do Manual “Cirurgias Seguras Salvam Vidas”

Você sabia que na sala cirúrgica, já com o paciente em sala, é conduzido um processo chamado Timeout ?

O Timeout, cuja tradução pode ser entendida por ‘intervalo’ ou ‘pausa’, é o momento onde os processos da Cirurgia Segura são aplicados.

Este é um momento muito importante onde um funcionário responsável confere todas as informações relativas ao paciente e também à cirurgia. Na sala cirúrgica devem estar um representante da enfermagem, um representante da equipe cirúrgica e também o médico anestesiologista.

Em algumas ocasiões, dependendo do protocolo da instituição hospitalar, nós instrumentadores também somos chamados a responder sobre o material da cirurgia. Se está correto, em conformidade com as solicitações do cirurgião e tudo o que será necessário ao procedimento.  Desta forma é fundamental o instrumentador estar presente em sala para responder ao que lhe for solicitado.

Por vezes, instrumentadores recém formados, ou mesmo estagiários, não conhecem este processo e acabam não percebendo a importância do Timeout para a cirurgia.

Então neste post, colocamos todas as informações necessárias ao conhecimento desta prática tão importante para cada paciente que se submete a um procedimento cirúrgico.

Aproveite esta leitura para chegar no centro cirúrgico bem preparado no assunto Cirurgia Segura. A segurança do paciente é a segurança de todos !!!!

_________________________________________________________

O ato cirúrgico envolve riscos e responsabilidades do paciente, do cirurgião e do hospital em diversos graus de intensidade.

Uma interessante prática tem se difundido pelos hospitais, a do time-out, parte do projeto Cirurgia Segura.

A ideia é checar todas as possibilidades de eventuais falhas que possam ocorrer no procedimento cirúrgico, falhas por erros em diversos níveis de responsabilidade compartilhadas entre o hospital, o médico e os familiares do paciente, no caso de pessoas dependentes.

Checar todos os passos de um procedimento é um habito que nasceu na aviação. Um dos melhores aviões da Segunda Guerra Mundial, o cargueiro B-17, caiu logo após sua primeira decolagem, embora estivesse sendo pilotado por um piloto muito experiente. Ao analisar o que havia ocorrido, a Boeing verificou que o piloto não havia configurado o avião antes da decolagem. A partir desse, episodio o checklist tornou-se obrigatório na aviação (fonte – The Checklist Manifesto, de Atul Gawande).

Em 2008, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou a campanha ‘Cirurgias Seguras Salvam Vidas’, que pretende reduzir a ocorrência de danos ao paciente cirúrgico e definir padrões de segurança que podem ser aplicados a todos os países membros da OMS.

No mesmo ano, dados coletados pela OMS mostraram o número total de 234 milhões de cirurgias pelo mundo, sendo que cerca de sete milhões de pessoas enfrentaram complicações provenientes de cirurgias.

Considera-se inadmissível não utilizar todo o conhecimento adquirido com a evolução técnico-científica para prevenir complicações, iatrogenias e eventos adversos. Isso levou a OMS e a Universidade de Harvard a iniciarem a campanha para realização de cirurgias seguras, preparando como modelo um checklist composto por três partes :

• Identificação ou Sign in (antes da indução anestésica): quando se verifica verbalmente a identidade do paciente, o procedimento e o local da cirurgia, e se o consentimento para o procedimento foi assinado. O coordenador da lista observa se o lado correto da cirurgia foi sinalizado e confere se o oxímetro de pulso foi colocado corretamente no paciente e está funcionando. Deve rever verbalmente, com a equipe de anestesia, se o paciente possui vias aéreas de difícil acesso, risco de perda sanguínea ou de reação alérgica, de modo a garantir a segurança durante o procedimento anestésico. O ideal seria que o cirurgião estivesse presente nesta fase, já que este pode ter uma ideia mais clara sobre os fatores complicadores; contudo, a presença do cirurgião não é essencial para completar essa primeira parte do checklist. No Brasil, esta etapa também é denominada timeout com especificação ‘antes da indução anestésica’;

• Confirmação ou Timeout (antes da incisão na pele – pausa cirúrgica): todos os profissionais presentes na sala de operações e que irão participar ativamente do procedimento se apresentam (nome e função); faz-se a conferência, em voz alta, da identidade do paciente, do procedimento e da parte do corpo que será operada. Em seguida, o cirurgião, o anestesiologista e o membro da equipe de enfermagem, verbalmente, revisam os pontos críticos para a cirurgia, fazendo uso do checklist e confirmando o uso profilático de antibióticos nos últimos 60 minutos; além disso, certificam-se da disponibilidade dos exames de imagem;

• Registro ou Sign out (antes do paciente sair da sala cirúrgica): em conjunto com a equipe, o coordenador da lista analisa o procedimento, contam-se as compressas e os instrumentos, rotulam-se as peças anatômicas ou outras amostras obtidas, checam-se informações sobre quaisquer danos nos equipamentos, assim como outros problemas a serem resolvidos; finalizam traçando os planos de cuidados em relação ao pós-operatório, antes do encaminhamento do paciente à sala de recuperação anestésica .

Simples cuidados antes do procedimento cirúrgico podem impedir complicações para o paciente, fazendo a diferença entre o sucesso e o fracasso da anestesia e da cirurgia . São muitos os fatores que podem levar uma equipe cirúrgica ao erro, colocando em risco a segurança do paciente.

Entre esses fatores, podem-se citar: materiais inadequados, por esterilização inadequada ou por mau funcionamento; corpo estranho esquecido no paciente, como instrumentais e compressas; dificuldade em reconhecer complicações durante a cirurgia; planejamento inadequado dos cuidados no período pós-operatório; perfurações ou hemorragias; intervenção com tempo prolongado e cirurgias de sítio e/ou indivíduo errados, ou, ainda, procedimento errado.

Quase metade dos sujeitos de um estudo realizado na Guatemala relatou que já cometeram algum erro que poderia ter sido prevenido.

Existem outras situações que acabam passando despercebidas, por serem corriqueiras, sendo, por este motivo, de difícil mensuração, como a sobrecarga de trabalho – gerada pelas longas jornadas ou pela execução de diferentes tarefas concomitantes – e as interrupções constantes no procedimento, além da troca de pessoal: todos estes também são fatores que contribuem para a ocorrência de erros.

A avaliação do uso do checklist em oito instituições-piloto no mundo mostrou que sua aplicação praticamente dobrou as chances de os usuários receberem o tratamento cirúrgico com padrões de cuidado adequados.

Não se sabe o mecanismo responsável por esse evento, mas acredita-se que se deva a mudanças na rotina, no comportamento da equipe, de cada membro individual e coletivamente, e na comunicação interpessoal.

Os objetivos da OMS com a campanha Cirurgia Segura incluem diminuir a morbimortalidade de pacientes cirúrgicos, dando, às equipes cirúrgicas e aos administradores hospitalares, orientações sobre a função de cada indivíduo e qual é o padrão de uma cirurgia segura, além de oferecer um instrumento de avaliação uniforme do serviço para vigilância nacional e internacional.

As normas a serem seguidas podem ser utilizadas em qualquer parte do mundo e devem ser adaptadas de acordo com a realidade institucional . A implementação do checklist é de baixo custo. Estima-se que seja necessário o tempo médio de três minutos para aplicação das três fases do processo de verificação e orienta-se que um único profissional, que participa do procedimento cirúrgico, seja responsável por essa aplicação, que é chamado de coordenador da lista. Esse profissional deve ter conhecimento sobre o processo anestésico-cirúrgico, estando apto a interromper o procedimento ou impedir seu avanço, se julgar insatisfatório um item necessário.

A introdução do checklist é um passo para uma nova cultura de segurança na sala cirúrgica . Realizar a checagem por meio do coordenador, com participação do paciente e da equipe multiprofissional, é essencial para o sucesso do procedimento. Quando há trabalho coletivo, os integrantes da equipe passam a se perceber mais do que meros executores de tarefas, resgatando a dimensão afetiva do trabalho.

  • WHO’s 10 objetivos da Cirurgia Segura (World Health Organization):

1. A equipe irá operar o paciente correto e o local correto.

2. A equipe usará métodos conhecidos para prevenir danos da administração de anestésicos, enquanto protege o paciente da dor.

3. A equipe irá reconhecer efetivamente e se preparar para o risco, perda de via aérea ou de função respiratória.

4. A equipe irá reconhecer e efetivamente se preparar para o risco de perda sanguínea elevada.

5. A equipe irá evitar indução de uma reação alérgica ou adversa de drogas para os quais o risco ao paciente é conhecido.

6. A equipe vai sempre usar métodos conhecidos para minimizar o risco de infecção de sítio cirúrgico.

7. A equipe irá impedir a retenção inadvertida de instrumentos ou compressas em feridas cirúrgicas.

8. A equipe irá garantir e identificar com precisão todos os espécimes cirúrgicos.

9. A equipe irá efetivamente comunicar e trocar informações críticas para a condução segura da operação.

10. Hospitais e sistemas de saúde pública estabelecerão vigilância de rotina da capacidade de cirúrgica, dos volume e dos resultados.

_________________________________________________________

Conhecimento muito importante não é mesmo ? Então, quando for instrumentar, lembre-se sempre das recomendações para a Cirurgia Segura e ajude a salvar vidas !!

Instrumentadoras de Plantão

Fontes:

  1. Aplicação do checklist para cirurgia segura: Relato de experiência – Applying the safe surgery checklist: An experience report Aplicación del checklist de cirugía segura: Relato de experiencia. Ana Paula Pancieri, Rachel de Carvalho, Eliana Mara Braga. – Rev. SOBECC, São Paulo. jan./mar. 2014; 19(1): 26-33.
  2. Cirurgia segura para todos – Gilberto Camanho – Scielo – Rev. bras. ortop. vol.49 no.6 São Paulo nov./dez. 2014 – http://dx.doi.org/10.1016/j.rboe.2014.09.008.
  3. CIRURGIA SEGURA – Ana Vasconcelos Coordenadora – Programa de Cirurgia Marina Hutter Gerente – centro Cirúrgico – Hospital Israelita Albert Einstein

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *