HC conclui 1ª etapa de cirurgia de separação de gêmeas siamesas após 7 horas em Ribeirão Preto

Separar uma única veia pode levar até 50 minutos, diz neurocirurgião de gêmeas unidas pela cabeça.

Primeira das quatro etapas da cirurgia com meninas do Ceará demorou sete horas no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Separação total está prevista para novembro.

As sete horas da primeira etapa da cirurgia de separação das gêmeas siamesas unidas pela cabeça em Ribeirão Preto (SP) são apenas o início de um empenho coletivo pela vida das duas crianças do Ceará.

O trabalho da equipe multidisciplinar de 30 profissionais, que começou os procedimentos no último sábado (17) no Hospital das Clínicas, passa por um jogo de detalhes que consiste, por exemplo, no tempo em que um único vaso sanguíneo pode levar para ser separado em meio aos tantos que ligam as gêmeas pela parte superior da cabeça.

Membro do grupo, o neurocirurgião Ricardo Santos de Oliveira estima até 50 minutos por veia, a depender do tamanho, das ligações e da posição. Um processo minucioso entre a obstrução dos vasos, a garantia de que o sistema sanguíneo terá condições de se reorganizar aos poucos sem prejudicar as funções dos cérebros das pacientes e, finalmente, o corte.

“Essa equação matemática é difícil. Se nós separarmos um canal principal, eu posso levar às vezes 40, 50 minutos pra poder separar, para que eu faça as execuções técnicas de modo que eu obtenha o êxito da separação. Em uma veia de menor calibre essa separação pode ser feita em dez minutos ou menos. Isso varia em função do calibre e da posição anatômica daquela veia”, explica.

O desligamento dos vasos sanguíneos, ao redor de toda a região craniana, e a expansão da pele fazem parte de uma das fases primordiais para a separação definitiva das irmãs de 1 ano e 7 meses, que seguem internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do HC e, segundo os médicos, apresentam bom quadro clínico.

As gêmeas só devem ser separadas na última cirurgia, prevista para novembro. Os trabalhos são coordenados pelo chefe do Departamento de Neurocirurgia Pediátrica, Hélio Machado, e contam com o médico norte-americano James Goodrich, referência mundial no assunto.

Equipe médica responsável pela cirurgia de gêmeas siamesas em Ribeirão Preto (SP) (Foto: Divulgação/HC-FMRP/USP)

Processo minucioso

A possibilidade de realizar a separação das siamesas em etapas, com tempo suficiente para recuperação, é considerada pela equipe do HC o grande avanço da iniciativa médica em Ribeirão Preto.

O planejamento é primordial diante de questões como a dominância das veias de uma das irmãs em relação à outra, a fragilidade dos organismos, bem como a necessidade de se garantir que o sangue continue sendo distribuído pelo corpo e não haja um infarto venoso, ou seja, um represamento. Eventuais hemorragias poderiam afetar funções motoras, afirma o neurocirurgião.

“É como se você tivesse cortado um afluente pra um rio principal. Quando nós olhamos esse modelo, esses canais significariam os grandes vasos, grandes rios. Os pequenos, os afluentes. Então, eles precisam drenar sangue em várias regiões do cérebro pra que esse sangue chegue nesses canais vasculares e esse, por sua vez, vai drenar para vasos da região cervical e posterior”, afirma.

Oliveira explica que antes da secção, o vaso recebe um clipe, que segura o sangue. Só depois disso, é que se segue adiante, com a certeza de que o cérebro está seguro.

“Existem algumas veias que têm uma ‘importância menor’ em relação à drenagem, e que nós coagulamos e seccionamos rapidamente e outras que, antes de prosseguir na secção do vaso, temos que bloquear a circulação, estudar um pouco a repercussão que isso vai causar para as duas, daí prosseguir.”

Molde em acrílico dos crânios das siamesas foi desenvolvido nos Estados Unidos a pedido da equipe do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (Foto: Chico Escola no/EPTV)

Nesse processo, no entanto, eventualmente é possível otimizar o tempo, atuando em duas veias distintas. “Existem momentos em que nós ocluímos uma e passamos a dissecar outra veia. No tempo em que estamos levando na dissecção da outra, a primeira já está fechada”, exemplifica o neurocirurgião.

Na cirurgia do último sábado, segundo o médico, o período mais crítico se deu na busca das ligações venosas mais profundas, mas o trabalho foi realizado com êxito, graças à integração de anestesistas, enfermeiros e cirurgiões.

“Obviamente a desconexão das veias, das estruturas vasculares mais profundas, sempre são mais preocupantes, porque podem levar problemas de inchaço cerebral.”

Modelo em tamanho real das gêmeas siamesas em Ribeirão Preto (SP) (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)

‘Pequena dúvida’

Mas o trabalho apenas está começando. Além da desconexão dos vasos, da pele e dos ossos do crânio, o grupo estuda como vai separar uma pequena área da cabeça que ainda pode ter algum tipo de ligação cerebral.

“Elas [irmãs] são unidas primeiramente pela pele, pela parte óssea, pela parte da membrana que recobre o cérebro e compartilham uma rede vascular. Na questão das áreas cerebrais, há uma pequena dúvida, uma pequena porção entre uma e outra, mas isso vai ser melhor estudado.”

Exames preliminares, de acordo com o neurocirurgião, apontam uma sobreposição de massas e não uma união cerebral propriamente dita. “Acreditamos que com os novos exames isso possa ficar bem claro se existe ou não uma ligação cerebral.”

O caso

As meninas, naturais de Patacas, distrito de Aquiraz (CE), a 35 km da capital Fortaleza (CE), são acompanhadas há um ano no interior de São Paulo por cerca de 30 profissionais, envolvendo neurocirurgiões, neurologistas, anestesistas, cirurgiões plásticos, intensivistas e enfermeiros.

O neurocirurgião Eduardo Jucá, responsável pelo acompanhamento das irmãs no Ceará foi quem as encaminhou ao hospital em São Paulo. Jucá foi aluno da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto e especializou-se em neurocirurgia pediátrica.

Ele tomou conhecimento do caso das irmãs pouco tempo após o nascimento delas, quando as duas foram encaminhadas ao hospital onde ele atua como coordenador. Devido à complexidade, entrou em contato com a equipe do HC para articular as avaliações.

Para viabilizar as cirurgias, exames complexos de ressonância magnética feitos no HC foram enviados à equipe do neurocirurgião James Goodrich, no Montefiore Medical Center, em Nova York. Eles propiciaram a criação dos moldes tridimensionais que auxiliam a equipe na cirurgia. Goodrich dedicou a carreira a casos complexos como este e já realizou 20 cirurgias de sucesso pelo mundo. ( Via Portal G1 )

Agora que vocês já estão atualizados com essa notícia maravilhosa, vamos à melhor foto publicada !!!

Olha que delícia essa sala de cirurgia !!!!!

Equipes atuam na primeira cirurgia de separação das gêmeas siamesas em Ribeirão Preto, SP (Foto: Divulgação/HC-FMRP/USP)

Nesta sala estavam as equipe médicas e todos os profissionais da saúde que participaram diretamente da primeira fase do processo de separação das meninas. Olha que coisa mais lindaaaaaaaaa !!!!

A gente adoraria estar nessa sala de cirurgia hein ? Ahhhh como a gente adoraria !!!! 😉

À todos que participaram do processo, nossos parabéns pelo comprometimento e dedicação a estas meninas que merecem sem dúvida ter vidas longas e saudáveis !!

Instrumentadoras de Plantão

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