O Indispensável preparo ao Instrumentador Cirúrgico na cirurgia de alta complexidade

    Professor Thiago Rodrigo Lopes fazendo o que ama !!

É com muita honra que aceito o convite de escreve esse artigo para os leitores do Blog das Instrumentadoras de Plantão!

Quando abri o envelope e corri os olhos pela carta convite, muito bem redigida e formatada por sinal, coisa de perfeccionista, coisa de instrumentador cirúrgico! Me deparei com esse tema tão grande descrito no alto dessa página…

Me veio em mente várias ideias indo uma de encontro a outra sobre o que escrever. Comecei a redigir um texto descrevendo técnicas de montagem de mesas, manipulação de afastadores para cirurgias de grande porte, grampeadores cirúrgicos, escrevi sobre o preparo do paciente para a cirurgia, por fim, um texto técnico e se podemos assim dizer “científico”.

Terminado todo o texto eu o li. Estava um texto conciso e cheio procedimentos da rotina de um instrumentador cirúrgico! Li novamente o título a mim oferecido para escrever esse artigo, foi quando eu percebi que a principal palavra desse título tão grande é a palavra Indispensável, e eu havia relatado talvez muitas coisas importantes, mas do indispensável eu não havia falado.

Nesse momento me veio nos pensamentos o que eu acredito ser realmente esse Preparo Indispensável. E a forma que encontrei de dividir isso com vocês é contando um pouco da minha experiência como instrumentador cirúrgico na Cirurgia Oncológica durante esses anos que atuo. Espero que apreciem!

Se eu fechar meus olhos agora e voltar meu pensamento para o momento onde tudo começou, sou capaz de descrever com detalhes!! A primeira vez que pisei em uma sala de cirurgia foi como a grande maioria dos instrumentadores, ainda como estagiário. No início, no primeiro dia, dificilmente você instrumenta (graças a Deus…rs) eu estava nervoso com a ideia de precisar entrar em alguma cirurgia… Não precisei!

Mas foi nesse primeiro dia de estágio que eu assisti uma cirurgia que atraiu a atenção de todos os alunos, pois era uma cirurgia grande, as mesas da instrumentadora repletas de instrumentos e materiais, era visível que ela sabia cada manobra que o cirurgião iria fazer e antecipava todos os tempos daquela Gastrectomia Total. A instrumentadora era então a nossa supervisora, o que eu nem imaginava naquele momento era que o cirurgião seria um dia meu chefe, e que eu saberia assim como ela, todos os tempos daquela cirurgia tão complexa! O cargo me foi oferecido tempos depois pela própria instrumentadora, Cristina Nikolajczuk, a quem tenho muita amizade até hoje!

Mas não foi na equipe do Dr. Schneider Makihara (meu chefe) que instrumentei minha primeira cirurgia. Minha primeira cirurgia foi um parto cesárea, para mim essa é a cirurgia mais bonita de todas! Por todos os motivos que a cercam, mas principalmente pelo fato de não existe doença. Instrumentei bastante cirurgia de varizes, hérnias, algumas osteossínteses, cirurgias pequenas, e a gente vai ganhando confiança para encarar as maiores! Aqui está a primeira grande lição: Não pular etapas! Um instrumentador de elite que domina cirurgias complexas foi um dia estagiário, que errava sequências simples de ligaduras em uma apendicectomia, por exemplo…

O mais importante é entender que o que te leva a instrumentar com perfeição a cirurgia complexa, é antes você dominar a cirurgia mais simples. É ela que te dá a base, te dá a confiança! Querer pular essa etapa é um grande erro… Será que se em uma cirurgia cardíaca, oncológica ou neurocirurgia o instrumentador errar uma sequência de entrega de instrumental ou contaminar algum material tem a mesma consequência quando esses mesmos erros acontecem em uma hérniorrafia, uma varizes ou uma apendicectomia?

Compromisso e dedicação, o exemplo do Professor Thiago Rodrigo Lopes para todos nós !!

Determinados tempos de cirurgias complexas não permitem erros do cirurgião, podendo ser muito prejudiciais ao paciente quando ocorrem. É por isso que se tem de instrumentar de forma precisa! Aqui vai a segunda grande lição: Estude os tempos cirúrgicos antes da cirurgia, e é preciso sim conhecer a anatomia da área a ser operada! Sempre que possível estude a cirurgia antes, isso ajuda muito! Demonstrar interesse pelo que está acontecendo, pelas manobras que estão sendo realizadas é fundamental, nesses anos todos de profissão eu nunca vi ou soube de um cirurgião que se negasse a explicar a anatomia que está ali exposta ou o porquê daquele procedimento, aliás eles gostam muito de ensinar. É claro que se tem de ter o bom senso de saber o momento certo de se fazer perguntas, muitas vezes o silêncio durante a cirurgia pode significar que está mais “difícil” do que deveria estar, é fácil reconhecer o momento certo de fazer perguntas, você saberá!

Quando comecei a trabalhar com cirurgia oncológica me deparei com situações bem diferentes das outras especialidades que havia instrumentado, a anatomia encontrada ao adentrar a cavidade por diversas vezes se encontra muito diferente por conta da doença. Esse é, na minha opinião, o maior desafio que esse cirurgião tem, encontrar o caminho certo para a ressecção do tumor preservando estruturas vitais do paciente, e muitas vezes esse caminho é longo e demora horas e horas. Chegamos num ponto bem característico das cirurgias de grande porte: geralmente são longas, estar preparado fisicamente é também muito importante.

Você é o braço direito do Cirurgião, mantenha-se Forte!!

Comecei a entender melhor os tempos de cada cirurgia, e com isso vem a confiança tanto nossa como do cirurgião em nós. Aqui vai a minha terceira grande lição: Iniciativa! As vezes aquele mixter que está na sua mesa, para aquela manobra pode ser melhor do que está nas mãos do cirurgião, ou se o auxiliar usasse aquela outra válvula apresentaria melhor o campo cirúrgico. É claro que se deve ter sutileza sempre ao fazer qualquer sugestão, e entender que nem sempre você estará certo, mas nunca saberá se não a fizer, eu acredito que todo cirurgião espera isso de seu instrumentador. Lembre-se sempre: você é parte integrante do ato cirúrgico! Assuma seu cargo e suas responsabilidades!!

Em suma, na minha opinião, o preparo indispensável ao instrumentador cirúrgico em cirurgias de alta complexidade, é a soma de suas experiências durante a carreira profissional, cada cirurgia contribuiu e continua a contribuir para a sua formação! Estamos em constante aprendizado, e ter a mente aberta para novos protocolos novas técnicas e condutas é vital para o nosso trabalho. Um Instrumentador Cirúrgico é o resultado das cirurgias em que instrumentou ao longo de sua carreira. A mais simples cirurgia de sua vida foi talvez a mais importante, pois foi onde tudo começou!

Com muito carinho;

A todos os leitores das Instrumentadoras de Plantão.

   

8 comentários em “O Indispensável preparo ao Instrumentador Cirúrgico na cirurgia de alta complexidade

  1. Excelente texto de um excelente profissional, privilégio de ter tido aulas com ele e ter aprendido muito, na minha época de estágio eu tive a oportunidade de assisti-lo e ter entrado em cirurgia com ele, a atenção e dedicação com os alunos são maravilhosas. Obrigada por ter feito parte do meu processo de formação na Instrumentação, sou o que sou graças a ele e ao CBIC. Desejo todo o sucesso e que continuem contribuindo para a formação de profissionais que trabalham na Instrumentação com o coração!!!

  2. texto simplesmente perfeito e verdadeiro ,com muita simplicidade e realidade obg por passar pra nos essa realidade ,o que m chamou a atemçao nesse texto foi queando vc diz a cirurgia mas importante foi a mais simples ,pois é dela qu s forma a base de tudo ,parabens!!!!!

  3. simplesmente achei incrível a forma como ele relatou sobre suas experiências com muito amor!! parabéns!!

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