Especialidades Cirúrgicas: Cirurgia Oncológica

O câncer continua sendo um importante problema de saúde pública no Brasil e merece atenção especial não só das autoridades competentes como também das sociedades médicas, dos profissionais de saúde e da população em geral. Sua incidência está aumentando, e o Instituto Nacional do Câncer estimou para o ano de 2009 o diagnóstico de 305.330 novos casos e a ocorrência de 117.000 óbitos no Brasil.

As repercussões econômicas e sociais diretas e indiretas do câncer para o doente, a família e a sociedade são enormes. Quanto mais avançado o estágio da doença, maior o custo do diagnóstico e do tratamento e menor a possibilidade de cura. Daí, o grande benefício da implantação de programas educativos de prevenção e de detecção precoce do câncer, baseados nas características gerais da população e no tipo e na incidência dos principais cânceres.

O doente oncológico tem menor tempo de vida, em comparação com uma pessoa sadia. O cirurgião que opera um paciente com câncer tem obrigação de entender melhor o processo biológico que está enfrentando. Grandes operações às vezes pouco contribuem para a vida do enfermo. A urgência do tratamento cirúrgico oncológico radical é relativa. Do mesmo modo, algumas vezes temos na mutilação cirúrgica o método mais adequado para vencer o processo neoplásico. A utilização de regras estabelecidas é útil, prática e dá amparo legal ao exercício profissional. No entanto, na tentativa de melhorar o resultado, encontrar o equilíbrio exato de quanto a mais ou a menos é uma tarefa que deve ser avaliada em bases individuais.

Conceito de Neoplasia

No organismo, verificam-se formas de crescimento celular controlada e não controladas. A hiperplasia, a metaplasia e a displasia são exemplos de crescimento controlado, enquanto que as neoplasias correspondem às formas de crescimento não controladas e são denominadas, na prática, de “tumores”. A primeira dificuldade que se enfrenta no estudo das neoplasias é a sua definição, pois ela se baseia na morfologia e na biologia do processo tumoral. Com a evolução do conhecimento, modifica-se a definição. A mais aceita atualmente é: “Neoplasia é uma proliferação anormal do tecido, que foge parcial ou totalmente ao controle do organismo e tende à autonomia e à perpetuação, com efeitos agressivos sobre o hospedeiro” (Pérez-Tamayo, 1987; Robbins, 1984).

Classificação

Várias classificações foram propostas para as neoplasias. A mais utilizada leva em consideração dois aspectos básicos: o comportamento biológico e a histogênese.

  • Comportamento biológico: De acordo com o comportamento biológico os tumores podem ser agrupados em três tipos: benignos, limítrofes ou “bordeline”, e malignos. Um dos pontos mais importantes no estudo das neoplasias é estabelecer os critérios de diferenciação entre cada uma destas lesões, o que, algumas vezes, torna-se difícil. Estes critérios serão discutidos a seguir e são, na grande maioria dos casos, morfológicos:
  • Cápsula: Os tumores benignos tendem a apresentar crescimento lento e expansivo determinando a compressão dos tecidos vizinhos, o que leva a formação de uma pseudocápsula fibrosa. Já nos casos dos tumores malignos, o crescimento rápido, desordenado, infiltrativo e destrutivo não permite a formação desta pseudocápsula; mesmo que ela se encontre presente, não deve ser equivocadamente considerada como tal, e sim como tecido maligno.
  • Crescimento: Todas as estruturas orgânicas apresentam um parênquima, representado pelas células em atividade metabólica ou em duplicação, e um estroma, representado pelo tecido conjuntivo vascularizado, cujo objetivo é dar sustentação e nutrição ao parênquima. Os tumores também têm estas estruturas, sendo que os benignos, por exibirem crescimento lento, possuem estroma e uma rede vascular adequada, por isso que raramente apresentam necrose e hemorragia. No caso dos tumores malignos, observa-se que, pela rapidez e desorganização do crescimento, pela capacidade infiltrativa e pelo alto índice de duplicação celular, eles apresentam uma desproporção entre o parênquima tumoral e o estroma vascularizado. Isto acarreta áreas de necrose ou hemorragia, de grau variável com a velocidade do crescimento e a “idade” tumorais.
  • Morfologia: O parênquima tumoral exibe um grau variado de células. As dos tumores benignos, que são semelhantes e reproduzem o aspecto das células do tecido que lhes deu origem, são denominadas bem diferenciadas. As células dos tumores malignos perderam estas características, têm graus variados de diferenciação e, portanto, guardam pouca semelhança com as células que as originaram e são denominadas pouco diferenciadas. Quando se estudam suas características ao microscópio, vêem-se células com alterações de membrana, citoplasma irregular e núcleos com variações da forma, tamanho e cromatismo.
  • Mitose: O número de mitoses expressa a atividade da divisão celular. Isto significa dizer que, quanto maior a atividade proliferativa de um tecido, maior será o número de mitoses verificadas. No caso dos tumores, o número de mitoses está inversamente relacionado com o grau de diferenciação. Quanto mais diferenciado for o tumor, menor será o número de mitoses observada e menor a agressividade do mesmo. Nos tumores benignos, as mitoses são raras e têm aspecto típico, enquanto que, nas neoplasias malignas, elas são em maior número e atípicas.
  • Antigenicidade As células dos tumores benignos, por serem bem diferenciadas, não apresentam a capacidade de produzir antígenos. Já as células malignas, pouco diferenciadas, têm esta propriedade, embora raramente, que pode ser utilizada no diagnóstico e no diagnóstico precoce de alguns tipos de câncer.
  • Metástases As duas propriedades principais das neoplasias malignas são: a capacidade invasivo- destrutiva local e a produção de metástases. Por definição, a metástase constitui o crescimento neoplásico à distância, sem continuidade e sem dependência do foco primário.

Nomenclatura

Regra Geral: A designação dos tumores baseia-se na sua histogênese e histopatologia. Para os tumores benignos, a regra é acrescentar o sufixo “oma” (tumor) ao termo que designa o tecido que os originou. Exemplos:

– tumor benigno do tecido cartilaginoso – condroma;

– tumor benigno do tecido gorduroso – lipoma;

– tumor benigno do tecido glandular – adenoma.

Quanto aos tumores malignos, é necessário considerar a origem embrionária dos tecidos de que deriva o tumor. Quando sua origem for dos tecidos epiteliais de revestimento externo e interno, os tumores são denominados carcinomas. Quando o epitélio de origem for glandular, passam a ser chamados de adenocarcinomas. Os tumores malignos originários dos tecidos conjuntivos ou mesenquimais terão o acréscimo de sarcoma ao vocábulo que corresponde ao tecido. Por sua vez, os tumores de origem nas células blásticas, que ocorrem mais freqüentemente na infância, têm o sufixo blastoma acrescentado ao vocábulo que corresponde ao tecido original. Exemplos:

– Carcinoma basocelular de face – tumor maligno da pele;

– Adenocarcinoma de ovário – tumor maligno do epitélio do ovário; – Condrossarcoma – tumor maligno do tecido cartilaginoso;

– Lipossarcoma – tumor maligno do tecido gorduroso;

– Leiomiossarcoma – tumor maligno do tecido muscular liso;

– Hepatoblastoma – tumor maligno do tecido hepático jovem;

– Nefroblastoma – tumor maligno do tecido renal jovem.

Exceções: Apesar de a maioria dos tumores incluírem-se na classificação pela regra geral, alguns constituem exceção a ela. Os casos mais comuns são:

  • Tumores Embrionários: São os Teratomas (podem ser benignos ou malignos, dependendo do seu grau de diferenciação), seminomas, coriocarcinomas e carcinoma de células embrionárias. São tumores malignos de origem embrionária, derivados de células primitivas totipotentes que antecedem o embrião tridérmico.
  • Epônimos: Há tumores malignos que receberam os nomes daqueles que os descreveram pela primeira vez: linfoma de Burkitt, Doença de Hodgkin, sarcoma de Ewing, sarcoma de Kaposi, tumor de Wilms (nefroblastoma), tumor de Krukenberg (adenocarcinoma mucinoso metastático para ovário).
  • Morfologia Tumoral: Os carcinomas e adenocarcinomas podem receber nomes complementares (epidermoide, papilífero, seroso, mucinoso, cístico, medular, lobular etc.), para melhor descrever sua morfologia, tanto macro como microscópica: cistoadenocarcinoma papilífero, carcinoma ductal infiltrante, adenocarcinoma mucinoso, carcinoma medular, etc.
  • Epitélios Múltiplos: Os tumores, tanto benignos como malignos, podem apresentar mais de uma linhagem celular. Quando benignos, recebem o nome dos tecidos que os compõem, mais o sufixo “oma”: fibroadenoma, angiomiolipoma, etc. O mesmo é feito para os tumores malignos, com os nomes dos tecidos que correspondem à variante maligna: carcinossarcoma, carcinoma adenoescamoso, etc. Outras vezes encontram-se componentes benigno e maligno, e os nomes estarão relacionados com as respectivas linhagens: adenoacantoma (linhagem glandular maligna e metaplasia escamosa benigna).
  • Sufixo Indevido: Algumas neoplasias malignas ficaram denominadas como se fossem benignas (ou seja, apenas pelo sufixo “oma”) por não possuírem a correspondente variante benigna: melanoma, linfomas e sarcomas (estes dois últimos nomes representam classes de variados tumores malignos).
  • Outros: Algumas vezes, a nomenclatura de alguns tumores escapa a qualquer critério histogenético ou morfológico: mola hidatiforme (uma neoplasia trofoblástica gestacional, como o corioma) e micose fungoide (linfoma não Hodgkin cutâneo).

Tipos mais comuns de câncer no Brasil:

Câncer de Pele
É um proliferação incontrolável de células cutâneas anormais. É o tipo mais comum na população e divide-se em dois tipos: melanomas e não melanomas. Os melanomas são originados nas células produtoras de melanina, substância responsável pela pigmentação da pele. É considerada a forma mais série da doença cutânea. Já os não melanomas representam a maioria dos casos, cerca de 96%. As pessoas devem ficar atentas a qualquer lesão na pele que tenha um aspecto de nódulo, tumor ou parecido com alguma mancha.A maioria é causado pela irradiação solar, portanto, é imprescindível o uso de filtro solar.

Câncer de próstata
A próstata é um órgão situado entre a bexiga e a região pélvica, atravessada pela parte inicial da uretra (canal por onde passa a urina) e produz parte do líquido que forma o esperma.Esse é o mais comum câncer do tipo sólido entre os homens. As chances dele aparecer ficam maiores conforme a idade vai avançando. Os homens com mais de 50 anos devem fazer os exames preventivos pelo menos uma vez por ano.A doença pode ser diagnosticada por uma alteração no PSA, uma proteína da próstata. Se essa dosagem estiver acima do nível ideal pode indicar um problema no órgão.Esse tipo de câncer é dividido em três grupos, sendo o primeiro o mais agressivo, que necessita de um tratamento mais radical. O segundo é o intermediário e o último, mais comum entre os pacientes, é de baixo risco.

Câncer de cólon e reto
O câncer colorretal é uma neoplasia que se origina em qualquer parte do cólon, reto ou canal anal. A doença começa na camada superficial do revestimento intestinal e com o tempo vai atingindo as camadas mais profundas.Esse tipo de câncer atinge pessoas de qualquer sexo e idade, mas é mais comum após os 50 anos. A maioria se inicia com uma lesão benigna que evolui lentamente até se transformar em um tumor maligno.

Câncer de pulmão
Esse tipo de câncer é altamente letal e frequente na população. Na região Sul, Sudeste e Centro-oeste do país, é um dos mais, perdendo apenas para os de pele e próstata.O Câncer de pulmão é uma doença que não apresenta sintomas em suas fases iniciais, tornando o diagnóstico mais difícil de ser feito e, por isso, a maioria descobre quando o câncer já está avançado.

Câncer de mama
Como em todos os outros tipos, as células possuem informações – os genes – que mostram como as tarefas devem ser realizadas. Quando esses genes são alterados, as células perdem sua função normal e passam a desenvolver atividades anormais, como um crescimento desorganizado, formando um tumor.A melhor forma de prevenir o câncer de mama é realizar os exames de mamografia regularmente. Se diagnosticado precocemente, as chances de cura chegam em até 95%.

Câncer de estômago
Grande parte desse tumor ocorre na cama mucosa, de revestimento interna, surgindo na forma de irregulares lesões com ulcerações (rompimento do tecido). Conforme a evolução da doença, essas células cancerígenas vão gradualmente substituindo o tecido normal do órgão, migrando para outras partes, podendo até chegar em outros lugares do organismo.É o segundo tumor maligno mais frequente do mundo, tendo alta incidência no Leste Europeu, Japão e Américas do Sul e Central. O câncer de estômago se apresenta em três diferentes tipos: o adenocarcinoma – responsável por 95% dos tumores; linfoma – diagnosticado em 3%; e o leiomiossarcoma – com início em tecidos que dão origem aos músculos e aos ossos.

Os números são de um levantamento feito pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) calculados com base nas taxas de mortalidade dos estados e capitais em todo o país.

Instituto Nacional do Câncer Foto: Sociedade Brasileira de Cirurgia oncológica

O Cirurgião Oncológico

Entendemos a oncologia como medicina dos cânceres. Não há como separar o tratamento médico do cirúrgico. Quando se fala em tratamento multidisciplinar, isto não significa que o quimioterapeuta, ou o radioterapeuta, ou o cirurgião vai decidir isoladamente o que lhe compete como especialista na conduta. Portanto é necessário que haja treinamento específico nas diversas áreas e que o processo de tomada de decisões envolva o compromisso com a escolha da melhor conduta. Processos de decisão, em todos os setores nos quais existam mais de uma opção, devem ser discutidos com base em conhecimentos estabelecidos. O processo de votação de como tratar um paciente é pouco científico e não garante o sucesso. Na oncologia existem sub-especialidades e, eventualmente, surgem opiniões diferentes, porém não devemos esquecer que o paciente tem necessidade de ter um médico principal como referência. A visão compartimental da medicina em alguns setores do nosso meio representa um retrocesso. As especialidades surgem conforme a evolução do conhecimento médico e a própria necessidade de racionalizar o atendimento e aprimorar soluções. A figura do cirurgião geral vem se modificando nas últimas décadas. A especialização em cirurgia ocorre tradicionalmente em função da região anatômica em que o cirurgião vai atuar, como, por exemplo, em ginecologia, cirurgia gastroenterológica, urologia, coloproctologia, etc. A videolaparoscopia inicialmente tendeu a ser uma especialidade definida pelo método de tratamento. Várias especialidades (anatômicas) passaram a absorver os ensinamentos, e diversos procedimentos inicialmente realizados por cirurgiões gerais laparoscopistas são feitos atualmente por especialistas (ginecologistas, urologistas, cirurgiões torácicos, etc.). O cirurgião oncológico geral deve ser treinado inicialmente em cirurgia geral e, numa segunda etapa, ser exposto a um programa específico. Operações alargadas, quando necessárias, implicam atuar em diversas regiões anatômicas e envolvem procedimentos cirúrgicos específicos. Colocar diversos especialistas (anatômicos) num mesmo campo operatório às vezes pode ser complexo.

A integração do cirurgião com a equipe multidisciplinar é importante. Não basta apenas entender a linguagem do radioterapeuta ou do oncologista clinico, ou conhecer o mais novo anticorpo monoclonal que está sendo testado. É importante ser crítico na avaliação de resultados de tratamento. O papel do cirurgião diante dos cânceres sólidos confunde-se com a própria história da cirurgia, que, nos tempos atuais, é a principal modalidade de tratamento na vasta maioria destes cânceres. Naqueles casos em que a cura anatômica não é mais possível, o cirurgião pode, muitas vezes, contribuir para a sua paliação.

Definir um cirurgião oncológico como o único apto a realizar uma lista de procedimentos complexos é incorreto. Muitos cirurgiões gerais ou de outras especialidades, por experiência ou interesse, são capazes de conduzir casos oncológicos de modo correto. Sua participação ativa na condução do diagnóstico, estadiamento, pesquisa de novas modalidades de tratamento e mesmo nas fases mais difíceis da existência do paciente é que vai caracterizá-Io como um especialista em oncologia cirúrgica.

Princípios da Cirurgia Oncológica

O cirurgião tem papel de grande importância na prevenção, no diagnóstico, estadiamento e no tratamento do paciente com câncer.

A cirurgia pode ter caráter paliativo (ressecção parcial, by-pass, derivação, etc.) ou ser curativa. A ressecção curativa é aquela em que todo o câncer visível é removido e as margens cirúrgicas são microscopicamente livres de lesão. Um limite macroscópico de 2 cm pode ser suficiente em uma margem da ressecção, mas pode ser necessária uma distância maior em outra margem. Na cirurgia radical, além de os preceitos de cirurgia curativa serem atingidos, é acrescida a ressecção concomitante de órgãos ou regiões contíguas ou contínuas. Além da margem cirúrgica mais ampla, é realizada usualmente linfadenectomia de pelo menos uma estação (cadeia) linfonodal negativa de comprometimento neoplásico, além da(s) cadeia(s) linfonodal(is) primariamente em risco de comprometimento. Isto leva aos conceitos de cirurgia DI (quando apenas as cadeias primárias são removidas), D2 (cadeias secundárias) e D3 (cadeias terciárias). Se considerarmos a disseminação linfática como uma seqüência contínua de canais e linfonodos, a ressecção de linfonodos negativos após a última cadeia comprometida confere, pelos menos teoricamente, mais segurança em relação à ausência de doença residual linfonodal. Em certas regiões, pela própria disposição anatômica, uma linfadenectomia completa é bastante alargada.A disseminação linfática do câncer do terço médio do esôfago torácico, pela extensa rede submucosa do órgão, para ser totalmente radical (D3) incluiria a ressecção linfonodal cervical, mediastinal do estômago proximal e do tronco celíaco. Do ponto de vista prático, é importante termos pelo menos uma amostragem dos linfonodos das cadeias mais distantes e assegurar a remoção das cadeias proximais. De um modo geral, a linfadenectomia D2 é aceita como radical. Uma linfadenectomia mais alargada aumenta a morbidade, e ainda são controversos os estudos para indicá-Ia como rotina fora de protocolos de pesquisa.

A presença de líquido peritoneal não significa obrigatoriamente metástase peritoneal. É importante a confirmação citológica. O material deve ser enviado com fixação com álcool em partes iguais ou fixador apropriado. Na ausência de ascite, lavado peritoneal intra-operatório deve ser realizado nos cânceres de trato digestivo. Instilamos a área próxima ao câncer com soro fisiológico, e o aspirado é enviado para citologia. Células mesoteliais ativadas devido a uma reação inflamatória intensa podem ser confundidas com células tumorais. A presença de sangue no lavado peritoneal dificulta também a sua avaliação. O diagnóstico de células malignas no lavado tem valor prognóstico nos cânceres intra-peritoneais.

Definimos como operação curativa (RO) aquela na qual, macroscopicamente, não observamos câncer residual e em que os limites microscópicos da ressecção estão livres de comprometimento. O relato operatório deve sempre estar correlacionado com os achados da patologia. Uma ressecção RI é aquela na qual ficou doença residual microscópica. Quando o cirurgião deixa doença visível, a intervenção é considerada macroscoscópica residual (R2). O prognóstico e o tratamento pós-cirúrgico certamente são diferentes nestas distintas situações.

É recomendado, portanto, que sempre se faça exame de congelação das margens cirúrgicas da ressecção tumoral. É importante que o cirurgião envie ao patologista as margens cirúrgicas identificadas de modo adequado. Um desenho esquemático dos pontos críticos vai facilitar muito o trabalho do patologista no laboratório. O limite final de uma ressecção não deve ser restrito ao seguimento ou órgão ressecado. Deve-se imaginar que o câncer esteja dentro de um cubo e que todas as margens (laterais, ântero-posterior e súpero-inferior) precisam ser estudadas histologicamente. A disseminação tumoral pode ocorrer em vários planos e por distância diferente. Recomenda-se biopsiar o tecido do antigo leito tumoral. Num câncer, por exemplo, do cólon direito, a falta destes cuidados pode levar a se considerar uma operação curativa ao nível de mucosa, quando há infiltração maligna ao nível do retroperitônio. Em uma grande massa tumoral, em que houve necessidade de ressecções associadas, uma boa técnica é corar as margens da peça a fresco com nanquim. As bordas coradas, em toda a extensão da ressecção, são facilmente identificadas histologicamente, facilitando a visualização de qual margem ressecada sofreu infiltração tumoral ou qual a margem livre conseguida. Outro aspecto importante é o envio da peça em recipiente adequado. A peça retorcida dificulta bastante uma correta identificação das relações anatômicas. O formoI dever cobrir todo o material para evitar autólise de tecido.

O conceito de doença residual, em nível linfonodal, também merece algumas considerações. Linfonodos aumentados ou endurecidos (suspeitos) além da área da drenagem linfática primária devem ser biopsiados, caso não possam ser ressecados.A comprovação histopatológica é fundamental para uma correta definição de doença residual. Processos inflamatórios/infecciosos ou fibróticos pós-radioterapia podem ser confundidos macroscopicamente com neoplásicos. Áreas suspeitas devem também ser clipadas ou marcadas com fio de aço, fazendo-se pequenas figuras geométricas (oval, triângulo ou quadrado), e adequadamente descritas. Isto facilitará um eventual tratamento radioterápico pós-operatório, permitindo que somente as áreas comprometidas sejam irradiadas.

Com o advento da videolaparoscopia, o interesse dos cirurgiões em incorporar o método ao tratamento do câncer tem sido grande. No entanto há que se ter cautela na avaliação do resultado dos estudos até agora publicados. Não há dúvida de que os novos equipamentos estão permitindo grandes progressos, porém a radicalidade cirúrgica necessária não é uniforme nos grupos que utilizam o método. Os implantes tumorais nos locais de introdução dos trocartes ainda representam um problema. Os resultados a longo prazo, em termos de controle local e padrão de disseminação tumoral, necessitam de maior tempo de observação. Os custos dos procedimentos também são um obstáculo. Para um cirurgião que nunca realizou determinado procedimento, é eticamente recomendado que o mesmo só seja feito com supervisão. O paciente deve ser formalmente informado das outras opções disponíveis. O avanço tecnológico deve sempre procurar manter um equilíbrio com os preceitos éticos. A aceitação da colecistectomia videolaparoscópica por doença benigna teve um caminho a trilhar, e muitas críticas foram superadas com o aprendizado e a melhoria dos equipamentos. No entanto algumas complicações iatrogênicas, como as lesões térmicas de via biliares – que eram praticamente desconhecidas na cirurgia convencional -, foram obstáculos novos que surgiram. A cirurgia videolaparoscópica no câncer deve ser vista, no atual nível de conhecimento, como um método em desenvolvimento. Não há dúvida de que é possível realizar ressecções, porém o resultado consolidado a longo prazo ainda requererá algum tempo.

Caso você tenha interesse em saber mais detalhes sobre a especialidade, acesse o manual abaixo, do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. O manual possui informações mais aprofundadas e é muito interessante:

Colégio Brasileiro de Cirurgiões – Cirurgia Oncológica

Fonte: Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica

Abaixo, você vai encontrar a lista básica de materiais para a cirurgia oncológica:

Atenção: Sempre verificar antes da montagem das mesas a necessidade das mesas de varal, Mayo e de apoio, pois a quantidade de instrumentos, via de regra, é grande !!

Diérese:

  • Cabo de Bisturi 03 e 04;
  • Tesoura de Metzenbaum curva e reta;
  • Tesoura Mayo curva e reta.

Síntese:

  • Porta Agulhas;
  • Pinça anatômica;
  • Pinça dente de rato;
  • Pinça de Adson com e sem dente.

Hemostáticos:

  • Pinça Halstead ( mosquito ) curva e reta;
  • Pinça Kelly curva e reta;
  • Pinça Kocher curva e reta.

Preensão:

  • Pinça Allis;
  • Pinça coração curva e reta;
  • Pinça Duval;
  • Pinça babcock;
  • Pinça Collin anel.

Especiais:

  • Mixter;
  • Moynihan;
  • Rochester;
  • Clamp intestinal curvo e reto.

Afastadores:

  • Farabeuf;
  • Válvula de Doyen;
  • Espátula maleável;
  • Sapata;
  • Gosset.

Diversos:

  • Cuba rim;
  • Cúpula;
  • Compressas;
  • Gaze;
  • Lixa e caneta para bisturi elétrico;
  • Prolongador para caneta de bisturi elétrico;
  • Aspirador;
  • Jarro cirúrgico.

Instrumentais complementares oriundos da cirurgia vascular:

  • Pinça Debakey/Dietrich/Atraugrip;
  • Porta agulhas longos e delicados;
  • Satinsky de vários tamanhos e angulações;
  • Tesouras longas e delicadas ( 25 a 30 cm );
  • Bulldog.

Para cada tipo de cirurgia, pode existir um material diferenciado a ser utilizado então sempre verifique qual o tipo de cirurgia e o material diferenciado que o cirurgião pretende utilizar.

Isso vale também para os fios, pois cada cirurgião tem sua preferência então sempre vale confirmar quais os fios que ele pretende utilizar.

Claro que o assunto oncologia vai muito além desse post, mas aqui você já tem uma boa base de estudo para conhecer a especialidade !!

Em breve traremos mais Especialidades Cirúrgicas para vocês !!! Bons estudos !!! 😉

 Instrumentadoras de Plantão

 

Fontes:

  1. Portal Colégio Brasileiro de Cirurgiões

2. Brasil. Ministério da Saúde/ Secretaria de Atenção à Saúde/ Departamento de Regulação, Avaliação e Controle/Coordenação Geral de Sistemas de Informação – 2011 MANUAL DE BASES TÉCNICAS DA ONCOLOGIA – SIA/SUS – SISTEMA DE INFORMAÇÕES AMBULATORIAIS

3. Portal Hospital do Câncer de Barretos – Hospital de Amor

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