Válvula Spitz-Holter – Criação da válvula para Hidrocefalia – Caso Casey

Hoje mais um post trazendo um pouco de história, em especial para quem ama e é instrumentador de neurocirurgia.

Sabem a Hidrocefalia, vocês já pararam para pensar como aquela válvula foi criada? Não, né?! Mas nós já! E não perdemos tempo e fomos atrás para saber!! Então se acomoda ai e curte o restante do post que está bem legal e a história é realmente linda!!

John e Mary Holter tentavam a anos terem seu bebe, e após diversas tentativas, sete anos se passaram até que o casal conseguir realizar seu sonho, e tiveram seu tão sonhado bebe.

No ano de 1955, nasce Casey Holter, ele como todos os bebes, virou a vida de seus pais de cabeça para baixo, na verdade ele mudou a vida principalmente de seu pai John Holter e além disso o curso da medicina.

Aquela criança mais esperada do que nunca, sofria de espinha bifida (condição em que a coluna não se forma completamente, causando malformações bem perigosas). Mas como o sapato nunca aperta um pé só, o problema também estava causando hidrocefalia (acúmulo de líquido céfalo raquidiano (líquor)) no cérebro. Esse líquido é produzido pelos plexos coróides das meninges e normalmente atua como um coxim líquido, protetor do cérebro e da medula. Ele normalmente circula pelo sistema nervoso e depois é drenado para a corrente circulatória. Se o sistema de drenagem for bloqueado, entretanto, o líquido céfalo-raquidiano pode se acumular, distorcer e lesar o cérebro, causando até mesmo a morte.

Imaginem o desespero desta família?!  A solução encontrada em 1955, e a única coisa que mantinha Casey vivo era um tipo de drenagem feita duas vezes ao dia, no qual uma agulha era inserida na fontanela, uma área mole da cabeça do bebe, e o excesso de fluido era removido com uma seringa para reduzir a pressão. (deu uma dorzinha no peito, não deu?!)

Surge nesse meio tempo o Dr Eugene Spitz, que era neurocirurgião, e foi quem operou Casey para que fosse colocada uma válvula chamada de bola e mola, que deveria fazer a drenagem desse líquor para a corrente sanguínea, sem permitir que elementos perigosos do sangue refluíssem para o sistema nervoso central.

Mas… a válvula era muito rudimentar e infelizmente quando foi inserida ela fez com que Casey tivesse um ataque cardíaco e gerou uma lesão cerebral permanente.

Ai que começa a parte mais linda da história.  John Holter (o pai), estava trabalhando como técnico em hidráulica numa fábrica, pediu ao Dr Eugene Spitz os detalhes da cirurgia que seu filho havia passado e o que havia acontecido.

E acreditem, quando Dr Spitz passou os dados, ele ficou extremamente chocado pois o problema parecia uma simples questão de hidráulica.

Na verdade o que John Holtr notou foi que, o local onde as enfermeiras introduziam os tubos de medicação com a agulhas, muitas vezes não ocorriam refluxos de líquidos, e com isso ele percebeu que os furos eram a prova de vazamento a baixas pressões, ele foi mais longe ainda, pois começou a perceber que nos bicos das mamadeiras acontecia o contrário,  quando a pressão era alta o suficiente, os furos se abriam e permitiam a passagem do líquido.

A válvula perfeita para permitir a drenagem do líquor com o aumento da pressão, sem deixar ocorrer nenhum refluxo! Havia sido encontrada!

Holter, nunca desistiu de seu filho e foi para casa, sentou-se na sua oficina e construiu a primeira versão da válvula naquela noite mesmo. Ela era feita a partir de tubos de látex, mas funcionava.

Dr Spitz observa que a válvula deveria ser construída com material inerte para o organismo, para evitar que ocorresse o mesmo problema que havia lesado o cérebro de Casey.

Holter entrou em contato com a Dow Chemical e foi aconselhado a utilizar silicone, um material novo na época.
Holter cria então uma versão utilizável dentro de poucos meses. A vontade de ver seu filho “bem”, fez com que o trabalho fosse tão rápido, que o seu filho não pôde utilizá-la pois ainda não havia se recuperado da primeira cirurgia.

Em 1956, a válvula foi instalada pela primeira vez em uma criança, o que resultou em sucesso, no mesmo ano o filho de John e Mary Holter também recebeu a válvula e que conseguiu curar a sua hidrocefalia. Porém como Casey já havia sofrido na primeira cirurgia uma lesão muito grande ele veio a falecer cinco anos após a instalação da válvula durante uma crise convulsiva.

O legado de Casey é usado até hoje, e a invenção de Holter é conhecida como “shunt de Spitz-Holter”.
Holter passou o resto da sua vida desenvolvendo válvulas para uso na medicina e faleceu em 2003, após salvar a vida de milhares de crianças que padeciam do mesmo mal que o seu filho… estima-se que 15.000 válvulas com base no design da Holter sejam instaladas todos os anos apenas nos Estados Unidos.

 

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